Gabby Matos e Tatiana Kfouri são duas arquitetas e designers de interiores, formadas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que trabalham em seu próprio escritório.
ESCRITÓRIO MATOS|KFOURI Arq. Gabby Matos e Arq. Tatiana Kfouri
Para começar, queria saber como é o seu processo criativo. Quais as suas referências? Como você atualiza seu repertório?
R. Nosso processo criativo inicia-se a partir de uma conversa com o cliente para entender sua demanda. Gostamos sempre se fazer uma reunião para que juntos possamos chegar em um escopo que faça sentido e atenda o que o cliente precisa. A partir desta conversa inicial, além da questão funcional, também conversamos um pouco sobre os gostos pessoais – estilos, cores, materiais preferidos etc. Juntando todas estas informações desenvolvemos todo um processo de pesquisa que culminará no desenvolvimento do layout do espaço e da apresentação de referências pensadas para cada espaço. Depois desta apresentação, conversamos um pouco sobre o que foi apresentado e desenvolvemos nossas perspectivas com as soluções personalizadas para cada projeto. Nosso conceito é desenvolvido a partir de muita pesquisa de referências de nossos projetos, mas também de profissionais que admiramos o trabalho. Hoje em dia, as referências principais estão nas páginas das redes sociais e sites de cada profissional, assim como também no aplicativo Pinterest que reúne milhares de imagens interessantes.
Alguns nomes focados em Design de Interiores que acompanhamos de perto: Duda Senna, Doma Arquitetura, Diego Revollo e Kelly Wearstler.
Qual é o ‘’tempo de incubação‘’ de um projeto para você? Desde a conceituação até a conclusão.
R. O projeto tem um prazo estipulado e escopo para ser seguido, porém ele se desenvolve conforme as definições do cliente, que muitas vezes possuem tempos variados. Normalmente um conceito é feito de 20 a 30 dias. O projeto executivo, após a aprovação do conceito demora também certa de 30 dias. Porém, estas datas dependem do tamanho e complexidade do projeto, podendo ser maiores ou menores. Também precisamos do feedback e aprovação do cliente para que o conceito seja totalmente finalizado – o que pode agregar mais tempo no processo.
Qual é a sua relação com os materiais? Como você decide quais usar? Tem algum material de preferência?
R. A escolha dos materiais depende muito do conceito do projeto. Gostamos de misturar texturas diferentes, usar cores e trabalhar na composição do ambiente valorizando os materiais utilizados. O estilo do cliente também influencia bastante na indicação e seleção desses materiais. Estamos sempre em busca de novos materiais visando praticidade, estéticas, soluções mais atuais e novos efeitos.
Atualmente, nossos favoritos são: madeira, palhinha natural e concreto.
A maior parte dos seus projetos é de Design de Interiores. Por que vocês optaram por seguir esse caminho?
R. Nosso foco prioritário é o Design de Interiores, principalmente reformas residenciais e comerciais. Nós duas trabalhamos por muitos anos em escritórios que atuavam nesta área e nos especializamos através de pós graduações e MBAs para atuar focadas nesse segmento.
O espaço interno é o locus das vivências e experiências, despertando sensações e interferindo diretamente no bem estar das pessoas. Assim sendo, um ambiente bem projetado trás funcionalidade, conforto, praticidade e acolhimento; além de deixar o lugar mais bonito, melhora o cotidiano das pessoas e interfere diretamente na qualidade de vida.
Ao projetar um ambiente, o que vocês levam em conta, em ordem de importância? Por quê?
R. A primeira questão a se considerar é a demanda do cliente. Ouvir o que ele tem a dizer, entender seu escopo e suas necessidades faz toda a diferença na concepção do projeto. E caso ele não saiba exatamente o que precisa – isso acontece em alguns casos – nós o ajudamos a achar as melhores soluções para cada questão levantada. O estilo, materiais e cores usados virão como resultado após essa primeira análise. De nada adianta projetar um espaço bonito que não atende o que o cliente precisa.
Como vocês acham que podemos criar ambientes melhores? Que tenham algum tipo de capacidade transformadora?
R. Como abordamos na questão anterior, ouvir o cliente é o ponto crucial para a elaboração do projeto. O ambiente desenvolvido será considerado bom quando ele for acolhedor e cumprir a demanda desejada. Um ambiente bem projetado pode trazer uma melhora significativa na qualidade de vida e no conforto das pessoas. É muito importante entender a rotina do cliente ou público alvo e setorizar os espaços de maneira que sejam funcionais, práticos, acolhedores e confortáveis. Um bom exemplo da relação de sensibilidade do espaço é o uso de determinadas cores, que podem estimular sensações diversas, sendo positivas ou negativas. O uso da luz natural ou artificial também terá um impacto importante na percepção do espaço, trazendo conforto ou desconforto se for executada de forma errada. O mobiliário também seria outro aspecto que interfere bastante na qualidade de vida. Em um home office por exemplo, a escolha adequada de uma cadeira, que terá uso intenso por 8 horas ou mais, precisa ser bem orientada para não trazer prejuízo físico ou desconforto.
Como você escolhe a mobília ao projetar um ambiente?
R. Antes de começar a escolha do mobiliário, nós analisamos o espaço disponível de cada ambiente e as necessidades que o cliente deseja para o espaço. Sempre apresentamos mais de uma opção de disposição de móveis para juntos definirmos qual será a mais adequada para o uso. Atualmente, damos preferência por peças soltas -não fixas - , que trazem mais dinâmica no ambiente. É o caso de escrivaninhas, poltronas, mesas de apoio etc. Peças que podem ser movimentadas com facilidade e transportadas caso o cliente decida fazer uma mudança. É uma opção muito boa também para o caso de apartamentos alugados, nos quais muitas vezes o proprietário não permite mudanças muito grandes na estrutura e nos móveis fixos. A ideia dos móveis soltos também se aplica bastante nos nossos projetos de quartos infantis pois conforme a criança cresce, suas necessidades mudam. Assim o quarto se adaptará facilmente no decorrer dos anos com poucas alterações.
Para escolher assentos, sugerimos sempre que o cliente visite as lojas com showroom, além de ver a peça ao vivo, para sentir o conforto e teste o mobiliário antes de efetuar a compra. Muitas vezes uma peça que é confortável para uma pessoa pode não ser para outra.
Sei que estudaram Especializações / MBAs no Brasil e no Exterior.
Conta um pouco sobre essas experiências? Qual o tema, como era, o que era bom ou ruim...
R. Ambas se formaram na Universidade Presbiteriana Mackenzie e tiveram a oportunidade de se especializar com cursos de pós graduação e MBA.
TATI: Eu optei por fazer o MBA da FGV com a especialização em Gestão para Escritórios de Arquitetura e Design de Interiores. Nesse curso foram abordados assuntos como: fluxo financeiro, planejamento, processos e demais itens relacionados a rotina do escritório de arquitetura. Me especializei na área de liderança motivacional para equipes e coordenação, focada em como lidar e entender as pessoas que fazem parte de todo o processo de um projeto ou obra - desde o cliente até fornecedores, equipe de obra e parceiros. Minha dedicação no MBA resultou na premiação de aluna com melhor desempenho de sua sala. O curso foi muito enriquecedor, pois não aborda apenas a parte de projetos e sim a questão do relacionamento interpessoal e processos do dia a dia que não são discutidos ou apresentados na faculdade ou demais graduações focadas no lado artístico e técnico.
GABBY: Eu tive uma experiência mais teórica e outra mais prática. Inicialmente cursei uma Especialização na Universidade Mackenzie em Arquitetura na Cidade Contemporânea, na qual ampliei meu conhecimento de novas funcionalidades, técnicas, conexões e condensadores urbanos e seus respectivos impactos na vivência contemporânea. Culminando no desenvolvimento de uma monografia sobre Utopias Urbanas Sustentáveis que propunha uma análise crítica sobre Sustentabilidade e Urbanismo. Foi uma experiencia muito enriquecedora e complementar à teoria ministrada na graduação.
Em 2011, busquei um MBA mais prático e focado no mercado de trabalho, que também agregasse uma nova experiência e vivência no exterior - um Máster em “Diseño y Arquitectura de Interiores” - Universidad Politécnica de Madrid - Espanha -. O curso me possibilitou uma convivência com arquitetos de diversos países além do aprofundamento focado em Design de Interiores, que evidenciou toda a complexidade da área, abordando um extenso conteúdo prático como luminotécnica, paisagismo e desenvolvimento de materiais e de mobiliário até conceitual como psicologia ambiental, criação e desenho de marcas culminando com um Projeto de Hotel Boutique – Green Box. O curso foi decisivo para minha opção em atuação na área de Design de Interiores.
Quando criaram a MATOS|KFOURI? Já se conheciam? Conte um pouco sobre essa parceria.
R. Nós nos conhecemos desde os 4 anos de idade, éramos vizinhas inclusive de porta, morávamos no mesmo andar do prédio. Com o tempo nos mudamos, mas sempre mantivemos contato. Nós duas estudamos Arquitetura e Urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie e fizemos estágios juntas em 2005.
Depois cada uma atuou em escritórios diferentes por vários anos. Tati trabalhou 13 anos como coordenadora no escritório Consuelo Jorge Arquitetos. Enquanto, Gabby trabalhou 6 anos como arquiteta na Cena Set Produções Cenográficas e posteriormente em parcerias com outros escritórios de Arquitetura.
Alguns anos após regressar do MBA na Espanha, Gabby começou a atuar como autônoma e logo em 2017 surgiu um projeto desafiador, iniciando esta parceria, que se consolidou com a criação da MATOS|KFOURI, que tem crescido a cada ano.
Para finalizar, qual o seu arquiteto, artista e designer favoritos?
R. São muitos profissionais arquitetos, designers e artistas que admiramos. Cada um com conceito e propostas diversas. Alguns escritórios de arquitetura que temos acompanhado são Diego Revollo, Studio Gabriel Bordin, MF+Arquitetos, Duda Senna e Doma. Em relação aos designers, nós gostamos muito de peças com madeira, palha e estrutura metálica. Adoramos o trabalho de Fernando Jaeger, Jader Almeida e Sérgio Rodrigues. Tivemos a oportunidade de desenvolver peças especiais para clientes em parceria com artistas como; Erica Mizutani, Kimi Nii e Ana Ervesoda. São trabalhos com muita sensibilidade, cor e personalidade que fizeram toda diferença nos ambientes que projetamos. Algumas referências internacionais gostamos muito são Oly Studio, Bjarke Ingels, Studio Pang e Koska Design.
Queria que vocês comentassem sobre seus dois projetos favoritos:
Difícil escolher projetos favoritos, gostamos de todos. Nossa maior realização é ver a satisfação do cliente com o seu sonho concretixado. Mas selecionamos 2 projetos que foram desafiadores, nos quais conseguimos um resultado impactante.
·Apartamento Residencial Haddock
Foi um projeto de áreas pontuais num apartamento residencial, mas que agregou um grande impacto funcional e estético ao imóvel.
O escopo inicial era um projeto que desse a sensação de amplitude e claridade na parte da cozinha, área de serviço e sala. A área de serviço era muito grande em proporção ao espaço da cozinha e havia uma divisão em alvenaria e tijolo de vidro que compartimentava o ambiente, dando a sensação de um espaço menor. Nossa ideia foi eliminar essas paredes e integrar todo o ambiente deixando a área de serviço em um espaço mais reservado para ocultar os varais, porém não existem portas separando cada uso. Com isso, a circulação ficou mais ampla e permitiu a entrada de mais ventilação e iluminação natural. A marcenaria foi bem otimizada e elaborada em MDF branco com detalhes menores em MDF amadeirado. Nas paredes usamos um porcelanato com efeito marmorizado, também com fundo branco trazendo certa sofisticação e colaborando na claridade e amplitude. Já na sala, sugerimos a colocação de um painel de espelho revestindo a parede da sala de jantar, visando uma amplitude do espaço. O painel da TV integrado com o rack e adega foram mantidos, mas trocamos todo o mobiliário solto por peças claras e em uma disposição diferente da anterior. Peças de design e de artesanato brasileiro deram um toque especial na produção, deixando a sala mais aconchegante e com a cara dos nossos clientes. Na parede entre a sala de jantar e estar fizemos uma composição com balaios indígenas e na mesa de centro temos um colar desenvolvido especialmente para o apartamento em parceria com a artesã Ana Ervedosa. O contraste entre o artesanato brasileiro com peças sofisticadas deixou o ambiente com muita personalidade e harmônico.
· Hall Social Condomínio Upper Side
Nesse projeto o desafio era criar um ambiente integrado e com impacto de hall social trabalhando espaços estreitos e de passagem/circulação.
O condômino Upper nos solicitou a criação de um “Hall Social”, conectando uma pequena área de estar e um longo corredor de circulação - cerca de 11m - que liga a portaria com o acesso dos elevadores. Mesmo sendo uma área de circulação, precisavam de um espaço agradável e valorizado, ou seja, uma entrada social – espaço importante, principalmente, quando falamos em casos de áreas comuns de edifícios residenciais e comerciais. A construtora entregou o espaço cru: sem móveis e apenas com as paredes brancas. Nosso conceito foi buscar amplitude e criar focos de interesse no percurso, trabalhando com 3 grandes floreiras em aço corten com vegetação de interiores seguidas por uma parede tipo galeria com quadros em preto e branco e de outro lado com 5 grandes painéis ritmados com espelhos e iluminação embutida. O verde das plantas e da pintura da parede trouxe aconchego e uma sensação de bem estar para a passagem. Os 3 painéis de espelhos em pontos estratégicos deram amplitude ao estreito corredor, atenuando a sensação do longo comprimento. Como o espaço praticamente não possui iluminação natural, os artifícios da iluminação artificial e embutida foram fundamentais, aliando funcionalidade à sofisticação. A pintura verde se estende até a parede da área de estar, localização estratégica para implementarmos a parte de estar com duas poltronas bem confortáveis e composição de quadros. A criação de um painel 3D em corten funcionou como ponto focal no fundo do corredor, trazendo textura e integrando-o ao espaço de estar.
Escrito por Pedro Henrique Daré
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